Sentence alignment for gv-por-20081019-1389.xml (html) - gv-spa-20081021-3067.xml (html)

#porspa
1Angola: Sobre a alegria e tristeza de ser um retornadoAngola: De la tristeza y alegría de ser un retornado
2Antes de Angola alcançar a independência em 1975, os antigos colonizadores portugueses viram-se obrigados a embarcar para Portugal.Cuando Angola se volvió independiente en 1975, los ex colonizadores portugueses fueron obligados a regresar a Portugal.
3Mas não foram os únicos.Pero ellos no fueron los únicos.
4Angolanos descendentes de portugueses ou não, deixaram também eles toda uma vida para trás.Angoleños también, descendientes o no de portugueses, dejaron toda su vida detrás.
5Abandonaram casas recheadas, carros, empregos e a grande maioria viajou com a roupa que traziam no corpo.Abandonaron casas bien surtidas, autos, trabajos, y la mayoría de ellos viajaron solamente con una muda de ropa.
6Não tiveram tempo para despedidas, cartas de demissão ou meios de assegurar a posse das casas que deixavam escancaradas.No tuvieron tiempo de decir adiós, de notificar a su trabajo, de garantizar que eran propietarios de las casas cuyas puertas delanteras dejaron abiertas.
7Muitos anos depois, os donos das casas regressaram ao país a fim de recuperarem o que lhes pertencia.Muchos años después, los propietarios de las casas regresaron a recuperar sus bienes.
8Nada conseguiram.No les devolvieron nada.
9As casas foram ocupadas maioritariamente por gente vinda do mato ou entregues a outras pessoas pelo Estado angolano, que declarou abandono por parte dos antigos ocupantes.En la mayoría de los casos, las casas habían sido ocupadas por gente que venía del campo o fueron dadas a otros por el estado angoleño, que las declaró en abandono por los ocupantes previos.
10Chegaram a Portugal desesperançados, de olhar perdido, trazendo pelas mãos os filhos, a certeza de um presente instável e de um futuro cinzento.Llegaron a Portugal sin esperanzas, con cara de perdidos, agarrando a sus niños de la mano, solamente con la certeza de un presente inestable y un futuro gris.
11Em Portugal levaram a alcunha de retornados. Termo pejorativo que se foi esbatendo com o tempo, mas que ainda marca a alma daqueles que fugiram da própria terra.En Portugal, les llamaron “retornados”, un término peyorativo que se ha disipado con el tiempo, pero que sigue marcando el alma de los que huyeron de su propio país.
12O autor do blog 25 de Abril - O Antes e o Agora reproduz a história de um homem que largou tudo para fugir de Angola:El autor del blog 25 de abril - el antes y el ahora reprodujo la historia de un hombre que dejó todo al huir de Angola:
13“Entre essa massa anónima de pessoas de destino incerto encontrava-se Ribeiro Cristovão, a sua mulher e os três filhos menores.“Entre la masa de personas anónimas cuyo destino era incierto, estaba Ribeiro Cristovão, su esposa y tres pequeños niños.
14“Mantive-me em Angola quase até à independência.“Me quedé en Angola casi hasta la independencia.
15Acreditava que apesar das alterações radicais haveria lugar para todos.Creía que a pesar de los cambios radicales, habría lugar para todos.
16Enganei-me.”Me equivoqué”.
17No final de 1975 abandona o seu emprego na cervejaria Cuca e a sua casa em Nova Lisboa.A fines de 1975 dejó su trabajo en la cervecería Cuca y su casa en Nova Lisboa.
18O homem do desporto da Rádio Renascença confessa que os primeiros três meses passados em Lisboa foram os mais difíceis da sua vida.El lector de deportes en Rádio Renascença confiesa que los primeros tres meses que vivió en Lisboa fueron los más difíciles de su vida.
19E sem o abrigo na casa da irmã em Alcochete, a sua história estaria hoje pintada em tons ainda mais negros.Y si no hubiera sido por el refugio en la casa de su hermana en Alcochete, su historia estaría pintada en tonos aún más oscuros.
20“Recordo-me de calcorrear a cidade à procura de emprego, sem sorte nenhuma.“Recuerdo haber caminado toda la ciudad buscando trabajo, sin suerte.
21Estava mesmo desesperado.Sin duda estaba desesperado”.
22No primeiro Natal na capital, Ribeiro Cristovão afundou-se numa tristeza profunda.En la primera Navidad en la capital [portuguesa], Ribeiro Cristovão se hundió en profunda tristeza.
23Ali estava ele rodeado com a sua família mas com a árvore despida de presentes.Ahí estaba rodeado de su familia pero con un árbol de Navidad sin regalos.
24O rótulo de retornado teimava em fechar-lhe as portas”.La etiqueta de retornado le cerraba todas las puertas.
25JPF do blog Fado Falado tem outra impressão acerca desta realidade:JPF, de Fado Falado [Fado hablado, pt] tiene una perspectiva diferente:
26”Tenho contudo a ideia - e a convicção - de que por cá, os retornados foram na generalidade bem acolhidos. Pelo Estado e pelas pessoas em geral.Con todo tenía la idea - y la convicción - que acá a los “retornados” los recibían bastante bien, el estado y la gente en general.
27Aliás a maioria e a sua descendência está por aí em situação identica à dos casos dos que já cá estavam e nas respectivas descendencias.A propósito, la mayoría de ellos y sus descendientes están ahora viviendo acá en la misma situación de aquellos que ya estaban acá y sus descendientes.
28Dir-me-ão que conhecem um caso X e outro Y diferentes.
29Provavelmente, há casos desses. Como os há de retornados que, não necessitando de nada, se fizeram e beneficiaram de toda a prebenda”.Algunos me dirán que conocen el caso diferente de X o Y y probablenente, hay historias como estas así como hay historias de “retornados” que, sin estar en necesidad, se beneficiaron de todas las donaciones.
30O autor do blog Cubatangola conta-nos um episódio curioso:El autor del blog Cubatangola [pt] nos cuenta un hecho curioso:
31“Ontem tive a certeza que uma grande maioria dos antigos habitantes de Agola, não enjeita serem chamados de “retornados”.Ayer tuve la certeza de que la mayor parte de los antiguos residentes angoleños no les importa que les digan “retornados”.
32Tenho um familiar que devido a graves problemas de saúde, ACV já por mais de quatro anos se encontra internado num lar para idosos.Tengo un pariente que, debido a serios problemas de salud, que tuvo un derrame hace más de cuatro años, vive en hogar.
33Recentemente conseguimos arranjar um novo lar com umas condições bastante melhores e uma assistência mais completa, para o mudamos ontem.Hace poco pudimos encontrarle un nuevo lugar con mucho mejores condiciones y cuidados más amplios, y lo mudamos ayer.
34Quando umas das empregadas soube que este novo utente tinha vivido bastantes anos em Angola e tinha regressado na leva de 75, chegou-se a ela e disse simplesmente, EU TAMBÉM SOU RETORNADA!Cuando una de las cuidadoras se enteró de que este nuevo paciente había vivido muchos años en Angola y había regresado con el grupo de ‘75, se le acercó y le dijo, simplemente, “¡YO TAMBIÉN SOY UNA RETORNADA!”.
35Uma frase simples, mas tão cheia de significado que foi suficiente para acalmar esta pessoa idosa, arrancando-lhe um sorriso, aqueles sorrisos de cumplicidade que trocamos com as pessoas que já conhecemos há muitos anos.Una simple frase, pero tan llena de significado que fue suficiente para tranqulizar a este anciano y traer una sonrisa a su cara, una de esas sonrisas de complicidad que intercambiamos con la gente que conocemos durante años.
36Sim, mais do que nunca continuo a acreditar que esta palavra “RETORNADOS”, identifica um povo, povo esse que não se deve envergonhar de assim ser chamado, mesmo que alguns o achem pejorativo”.Sin duad, más que nunca creo que esta palabra RETORNADO identifica a personas que no deberían avergonzarse de que las llamen así, aunque algunos piensan que es peyorativa.
37A verdade é que nem o Estado português ou os próprios portugueses facilitaram a vida aos que chegaram ao país.La verdad es que ni el estado portugués ni los mismos ciudadanos hicieron fácil la vida de los que regresaban al país.
38JPF confirma este facto:JPF confirma esto:
39“Tenho família que fugiu de Angola em 75.Tengo familia que salió de Angola en ‘75.
40Foi terrível para muita gente, para muitas famílias.Fue terrible para mucha gente, para muchas familias.
41Pelo que apreendi na altura e sei hoje, o Estado português, na época, não lhes prestou lá o apoio que deveria.Hasta donde supe en ese momento y ahora, el estado portugués no les dio el apoyo debido en ese momento.
42Abandonou-os, mesmo.Ciertamente fueron abandonados.
43Mas isso é uma questão que têm de colocar aos responsavéis políticos de então.Pero esta es una cuestión que debería ser dirigda a los políticos relevantes del momento.
44Basicamente, militares barbudos, alguns comunistas, muitos revolucionários e oficiais-generais, como Rosa Coutinho, Vasco Gonçalves e Costa Gomes. E outros de quem não conhecemos os nomes”.Básicamente, militares barbones, algunos de ellos comunistas, otros revolucionarios y oficiales generales, como Rosa Coutinho, Vasco Gonçalves y Costa Gomes así como otros cuyos nombres no sé”.
45É certo que a grande maioria partiu para a antiga metrópole, mas alguns decidiram ficar. Afinal de contas, tratava-se da terra onde constituíram família.Es verdad que la mayoría decidió irse a la vieja metrópolis, pero algunos decidieron quedarse. sin embargo, fue el lugar donde comenzaron una familia, un lugar donde los sueños y el futuro prometeder se habían establecido juntos.
46Onde o sonho andava de mãos dadas com um futuro promissor.
47JPF conta no seu blog huma história de coragem e amor pela pátria:JPF publica una historia de coraje y amor por la patria en su blog:
48“Há uns anos, li na revista Pública, uma excelente reportagem com “o mais velho português de Angola”.“Hace algunos años leí una excelente historia acerca de los “más viejos portugueses en Angola” en la revista Pública.
49Era um tipo com quase 90 anos. Tinha nascido lá, por volta de 1910.Era un hombre de casi 90 años nacido allá, cerca de 1910.
50O seu avô tinha ido para Angola na primeira metade do século XIX.Su abuelo se había ido a Angola en la primera mitad del siglo XIX.
51O homem relatava a história da sua vida.Este hombre contó su historia.
52Em 74 ou 75, quando rebentaram a sério as hostilidades em Angola, desfez a casa, carregou carros e camionetas e rumou, da cidade onde vivia, a caminho de Luanda, para se pirar com a família.En ‘74 or ‘75, cuando estalló la grave hostilidad en Angola, empacó su hogar, cargó los autos y manejó fuera de la ciudad en que vivía hacia Luanda para huir con su familia.
53Chegado a meio do percurso, de muitas centenas de quilómetros e milhares de perigos, parou o carro e pensou: vou fugir para onde?Medio camino después, tras cientos de millas y miles de peligros, detuvo el auto y se preguntó: “¿a dónde voy a huir?
54Porquê?¿Por qué?
55Esta é a minha terra!¡Esta es mi tierra!
56Esta é a terra que eu gosto!La tierra que amo”.
57Voltou para trás com a família e ficou.Regresó con su familia y se quedó ahí.
58Hoje terá perto de cem anos.Ahora tiene cerca de cien año.
59Ou já morreu - na terra onde nasceu e que sempre amou.O, si ya ha muerto, fue en la tierra en la que nació y vivió, siempre.
60E onde foi enterrado pelos seus familiares.Donde fue enterrado por su familia.
61Não tenho dúvidas de que este velhote amava mesmo de Angola”.No tengo dudas de este viejo amaba a Angola.
62Para encerrar, Carlos Pereira do blog meus escapes publica um vídeo de Luena em 1975 mostrando o que ele chama de “Momentos de grandes dramas das vítimas de uma descolonização desastrosa”:Para redondear, Carlos Pereira de meus escapes [mis escapes, pt] carga un video hecho en Luana en 1975 que muestra lo que él llama “momentos de gran drama para las víctmas de una descolonización desastrosa”:
63As maravilhosas imagens que ilustram esse post são capturas de tela do video acima, by Dailymotion user kutembaLas maravillosas fotos que ilustran este artículo son imágenes de pantalla del video de arriba, por el ususario de Dailymotion kutemba Originalmente escrito en portugués, traducción por Paula Góes