# | eng | por |
---|
1 | Guinea-Bissau: Citizen Frustration and Defiance in Face of Turmoil | Guiné-Bissau: frustração dos cidadãos e desobediência em meio à desordem |
2 | On October 21, a violent incident occurred at an airbase outside Bissau, the capital of the small west African nation of Guinea-Bissau. | No dia 21 de outubro, aconteceu um violento incidente na base aérea próxima à Bissau, capital do pequeno país africano Guiné-Bissau. |
3 | Six people were reported killed, and gruesome images of bodies of accused assailants circulated on the internet. | Segundo relatos, seis pessoas morreram e fortes imagens dos corpos dos acusados circularam na internet. |
4 | The day after two politicians critical of the country's transitional government and military were kidnapped and beaten. | No dia seguinte, dois políticos críticos ao governo e da força militar de transição do país foram sequestrados e espancados. |
5 | (The transitional government came to power after a military coup d'etat earlier this year.) | O governo de transição assumiu o poder após um golpe militar no início deste ano. |
6 | The violence took place against a backdrop of simmering doubts about the transition negotiated by the Economic Community of West African States (ECOWAS). | A violência aconteceu em meio a um cenário de dúvidas efervescentes sobre a transição negociada pela Comunidade Econômica dos Países da África Ocidental (ECOWAS, na sigla em inglês). |
7 | (For background - see the International Crisis Group's August briefing “Beyond Turf Wars”). | Para mais informações, veja o informativo do mês de agosto da International Crisis Group intitulado “Beyond Turf Wars” [en]. |
8 | The transitional government was quick to blame the incident - which it deemed a coup attempt - on an ex-military official Pansau N'Tchama and interference by Portugal. | O governo de transição foi rápido em colocar a culpa do incidente - considerado uma tentativa de golpe - no ex-oficial das forças armadas Pansau N'Tchama e na interferência de Portugal [en]. |
9 | This photo supposedly of his arrest, in which he is draped in the Portuguese flag and restrained by a rope around his neck, was shared by those administrating the page of the Simão Mendes National Hospital. | Esta foto, supostamente do momento de sua prisão, na qual ele pode ser visto drapeado à bandeira portuguesa e contido com uma corda ao redor do seu pescoço, foi compartilhada pelos administradores da página do Hospital Nacional Simão Mendes. |
10 | N'Tchama's humiliating transfer to Bissau, after arrest in the Bijagós islands, was captured on video by José Mussuaili | A humilhante transferência de N'Tchama para Bissau, após sua prisão nas ilhas Bijagós, foi filmada por José Mussuaili. |
11 | The situation the ground is difficult to make sense of, especially for North American mainstream media, which have used the moment to rehash the narcostate narrative about Guinea-Bissau. | A situação no local é difícil de ser compreendida, especialmente para a mídia de massa da América do Norte, que tem usado esse momento para dar uma nova roupa à narrativa sobre Guiné-Bissau ser um estado dominado por narcóticos [en]. |
12 | Frustration and defiance | Frustração e desobediência |
13 | While the international institutions - the AU (African Union), the UN and ECOWAS, express “concern” and conduct meetings, the people of Guinea-Bissau have little outlet for their fears and frustrations. | Enquanto as instituições internacionais - a UA (União Africana), a ONU e a ECOWAS expressam sua “preocupação” e organizam reuniões, o povo de Guiné-Bissau tem poucos meios para expressar seus medos e frustrações. |
14 | Fernando Casimiro, on his website Didinho, argued that | Fernando Casimiro, em seu website Didinho, argumentou que: |
15 | “Symbolic burning of arms following Guinea-Bissau's civil war: Reform of the country's military remains vital for achieving political stability.” | “A queima simbólica de armas após a guerra civil de Guiné-Bissau: reforma das forças armadas do país continua a ser fator vital para alcançar estabilidade política.” |
16 | UN Photo / Tim McKulka shared on Flickr by Africa Renewal (CC BY-NC-SA 2.0) | Foto da ONU / Tim McKulka compartilhada no Flickr por Africa Renewal (CC BY-NC-SA 2.0) |
17 | In the case of Guinea Bissau, even if there weren't Armed Forces, there will always be other “FORCES”, who will always be armed, with or without uniform, serving whoever believes to be legitimized by power. | No caso da Guiné-Bissau, se não houvesse, ou se não houver Forças Armadas, haverá sempre outras “FORÇAS”, que estarão sempre armadas, com ou sem uniforme, ao serviço de quem se julga legitimado pelo poder. |
18 | No, democracy in Guinea Bissau is not yet sufficiently prepared to let go of either the service of the Republican Armed Forces or other armed “FORCES” who represent the protection of interests, and power that politicians and governors believe belongs to them, legitimized through popular vote. | Não, a democracia na Guiné-Bissau, ainda não está preparada suficientemente, para “dispensar” quer seja o serviço das Forças Armadas Republicanas, quer de outras “FORÇAS” armadas que representam a salvaguarda dos interesses e do poder que políticos e governantes julgam pertencer-lhes pela legitimação através do voto popular. |
19 | It seems no coincidence Guineans online have been sharing a song “Nkana Medi” ([We Are] Not Afraid) by Masta Tito, a Guinean rapper [Pt] who has been outspoken in his demand for reform of the military. | Não é coincidência que a maioria dos Guineenses online têm compartilhando uma música intitulada “Nkana Medi “(Não temos medo), por Masta Tito, um rapper da Guiné-Bissau. Ele tem se expressado abertamente e demandado reforma das forças armadas. |
20 | An article [pt] by sociologist Miguel Barros on Buala translates part of the lyrics: | Um artigo escrito pelo sociólogo Miguel Barros no Buala traduz um trecho da letra da música: |
21 | We are not afraid / We are tired of ‘fronting' / Now each of us tightens our belts / We are all guineans / (…) Like it or not, I won't stop singing for my people In the weeks that followed the bloody assault, blogger and journalist Aly Silva has once again been a key source of information and opinion. | No ka na medi (…) / no karmusa no kansa / gosi i pa kada kin mara si kalsa / anós tudu i guiniensi / (…) bo gosta ó bo ka gosta n ka na para kanta pa nha povu [Nós não temos medo / Cansámo-nos de nos pavonear / Agora que cada um amarre as calças / Somos todos guineenses / (…) [Gostem] ou não [gostem], não vou parar de cantar para o meu povo] (Masta Tito, Nka Na Medi, registo sonoro, Bissau, 2012) |
22 | | Nas semanas seguintes ao sangrento ataque, o blogueiro e jornalista Aly Silva foi, mais uma vez, fonte importante de informação e opinião. |
23 | The African Committee to Protect Journalists reported that Aly Silva was threatened by military and has gone into hiding, and that Portuguese state media correspondent Fernando Teixeira Gomes was forced to leave the country by official order of the transitional government. | O Comitê para Proteção dos Jornalistas na África relatou que Aly Silva foi ameaçado por militares e teve de se esconder, e que o correspondente da agência de notícias estatal portuguesa, Fernando Teixeira Gomes, foi forçado a deixar o país por uma ordem oficial do governo de transição. |
24 | Aly Silva continues to write [pt] defiantly on his blog, which he says has just reached the milestone of 5 million views | Aly Silva continua a mostrar desobediência e a escrever em seu blog, que já alcançou a marca de 5 milhões de visualizações: |
25 | I watch and record everything. | Olho e registo tudo. |
26 | Afterwards I write, in the certainty that someone will read and share the same feelings. | Depois escrevo, na certeza de que alguém me vai ler e comungar dos mesmos sentimentos. |
27 | My blog has been visited daily by thousands of people. | O meu blogue, tem sido acessado diariamente por milhares de pessoas. |
28 | That's just stats. | Ficará para a estatística. |
29 | I would prefer having one visit a day, than having to deal with thousands of sad and cloudy eyes: they are killing us, they are destroying our families, [they are] turning children violent. | Teria preferido uma visita por dia, a ter de suportar milhares de pares de olhos tristes e enevoados: estão a matar-nos, estão a destruir as famílias, a tornar as crianças violentas. |
30 | On his blog “Ditadura do Consenso”, Aly Silva also published a guest post by a man who asks for anonymity [pt] out of fear - a sort of “Oscars” for best performances by politicians and military, a darkly comic analysis of the situation. | Em seu blog “Ditadura do Consenso”, Aly Silva também publicou o texto de um homem que pediu pra se manter anônimo por medo - um tipo de “Oscar” para as melhores performances de figuras políticas e militares, uma análise sombria e cômica da situação. |
31 | Domadora de Camalões blogger Helena Ferro de Gouveia wrote in her post “Blood spilled (again) on the streets of Bissau” [pt] [caution: shocking images] | A blogueira Helena Ferro de Gouveia, do blog Domadora de Camalões, escreveu em seu post “E o sangue saiu à rua em Bissau (de novo)” [imagens fortes]: |
32 | Guineans are people and not an abstraction, or “guys used to violence”, in a tropical country. | Os guineenses são pessoas e não uma abstração, ou uns “gajos habituados à violência”, num país tropical. |
33 | The Guineans deserve whatever that thing called dignity is. | Os guineenses merecem qualquer coisa chamada dignidade. |
34 | Running the risk of repeating myself: the world should come with errata. | Correndo o risco de me repetir: o mundo devia vir com uma errata. |